quinta-feira, 19 de agosto de 2010

STUART HALL



Por Vilma Mota Quintela
Prof. Dra. em Teorias e Crítica da Literatura e da Cultura

Stuart Hall nasceu em Kingston, capital da Jamaica, em 1932, tendo vivido, nos anos de sua formação, as contradições próprias de uma sociedade híbrida, marcada pelo conflito entre a cultura local e o imperialismo no contexto colonizado. Nesses anos, a Jamaica vivia o fim do período da dominação política inglesa, tendo esse fato, de certa forma, condicionado o destino de Hall como um intelectual da diáspora negra. Integrante de uma família de classe média inter-racial, sua formação e identidade, de acordo com ele próprio, foram construídas a partir de uma espécie de recusa dos modelos dominantes de construção pessoal e cultural aos quais foi exposto. Conta o autor que seu pai pertencia a uma família de classe média baixa rural e mista etnicamente, composta por africanos, indianos, portugueses e judeus. Já a família de sua mãe situava-se em uma classe média economicamente privilegiada, cujos integrantes se enquadravam na categoria do "branco local", estando esses bem mais próximos que seu pai da cultura dos colonizadores ingleses. Acresce que Hall era o membro mais escuro da família, isto num ambiente em que a identidade negra era associada aos setores subalternos da sociedade, sendo, por isso, altamente indesejável. Isto o levou a viver, na mais tenra idade, no interior do próprio círculo familiar, as tensões coloniais clássicas, que se tornaram parte de sua história pessoal. Nesse contexto, Hall encarna o drama do indivíduo socialmente inadequado, que se coloca na fronteira social, visto que não se identifica com a cultura dominante tampouco pertence à cultura do dominado. Esse dado revela a complexidade das questões que envolvem os dramas étnico-culturais em uma sociedade híbrida e pós-colonial, como aliás é também o caso da cultura brasileira, não obstante as importantes diferenças que se colocam entre a história cultural do Brasil e a da Jamaica. No Brasil como na Jamaica, vale pontuar, a problemática das diferenças étnicas e culturais muitas vezes se estabelecem de modo sutil, revelando nuanças nem sempre observáveis quando tais questões são analisadas a partir de esquemas genéricos. Essa complexidade, no que concerne à cultura jamaicana, fica patenteada no discurso de S. Hall que, em entrevista, lembra o fato de seus amigos de escola, muitos dos quais oriundos de famílias de classe média respeitáveis, não serem aceitos em sua casa, por serem mais escuros que ele (Hall, 2003: 386). A esse respeito, diz o autor:
"Eles (seus pais) sempre me encorajaram a relacionar-me com as pessoas certas. Eles sempre me encorajavam a relacionar-me mais com amigos da classe média, de cor mais clara, o que eu não fazia. Em vez disso, me afastei emocionalmente da minha família e fiz amizades em outros lugares. Passei minha adolescência negociando esses espaços culturais." (idem)

Mais tarde, em 1951, levado por sua mãe, Hall foi estudar literatura na universidade de Oxford, na Inglaterra, e não mais voltou a morar na Jamaica. No final dessa década e início da década seguinte, Hall juntou-se a E. P. Thompson, Raymond Williams e a outros intelectuais que se tornariam,mais tarde, expoentes dos Estudos Culturais, para fundar a revista New Left Review. Sua carreira deslanchou após co-autorar com Paddy Whannel “The popular arts” em 1964. Nessa década, R. Hoggart o convida para ingressar no Birmingham Center for Cultural Studies, importante centro de onde sairam as primeiras publicações no campo dos Estudos Culturais.

Após isso, Hall escreveu relevantes trabalhos no campo da Ciência Social e dos Estudos Culturais, tais como The Hard Road to Renewal (1988), Resistance Through Rituals (1989), The Formation of Modernity (1992), Questions of Cultural Identity. O trabalho de Hall tem como pontos centrais questões relativas à hegemonia e à cultura. Para ele, estas se constituem a partir da luta entre poderes e instituições, entre as quais se incluem a política e a economia. A sua visão compreende os indivíduos socialmente inseridos como “produtores” e “consumidores” de cultura. Seus trabalhos, que tratam de temas como o preconceito racial e a globalização, dentre outros temas caros à pós-modernidade, se distinguem no contexto da produção intelectual fundadora dos contemporâneos Estudos Culturais. Esse é o caso dos livros Da Diáspora: Identidades e mediações culturais e A Identidade cultural na pós-modernidade, em que Hall problematiza questões relativas à propagada crise da identidade cultural, avaliando em que consiste tal crise e quais as consequências desta no contexto da pós-modernidade.


REFERÊNCIAS

ESCOSTEGUY, Ana Carolina D.. Stuart Hall: esboço de um
itinerário biointelectual. Revista FAMECOS, Porto Alegre, nº 21, agosto 2003. Disponível in: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/viewFile/3214/2479
HALL, Stuart. A Identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
HALL, S.. A Formação de um intelectual diaspórico (Entrevista de Kuan-Hsing com S. Hall). In: Da Diáspora: Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: UFMG, 2003, p. 386-410.
SOVIK, Liv. Para ler Stuart Hall (Apresentação). In: Da Diáspora: Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: UFMG, 2003, p. 9-22.

3 comentários:

  1. o tema é otimo,lendo a historia de Stuart Hall podemos nos deparar com a identidade de uma gente,não distante da nossa,ingual,vemos nele um exemplo de aceitação de sua propria identidade...

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  2. Excelente tema, pois possibilita-nos entender o sujeito cultural, da problemática pós-moderna e do processo de globalização.

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  3. Stuart Hall nos permite conhecer os conceitos de identidade e sujeito,os aspectos de nossas identidades e também que há possibilidade da formação de novas identidades.

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